Economizar dinheiro parece ser uma tarefa impossível para muitas pessoas. O fator pandemia desestabilizou a realidade financeira de muitas pessoas e revelou que quem não costuma organizar o próprio dinheiro pode ter dificuldades durante os momentos de imprevisibilidade que a vida possa oferecer. Afinal, nenhuma pessoa consegue prever que pode perder o emprego ou que terá gastos extras com medicamentos.
De acordo com levantamento da Acordo Certo, uma fintech de renegociação de dívidas online (empresa que lida com finanças a partir de inovação e tecnologia), 56% da população brasileira tem dificuldades de guardar dinheiro. A pesquisa foi feita no mês de janeiro e o dado é baseado em um momento de incertezas causado pela pandemia.
Para Walcir Soares Junior, Doutor em Desenvolvimento Econômico e professor do curso de Economia pela Universidade Positivo, o maior problema está na mentalidade do povo brasileiro, que não tem a cultura de poupar dinheiro. Na visão dele, a população tem uma mentalidade de gastar na despesa sem pensar nela como uma contrapartida da receita.
Segundo o especialista, algumas ferramentas podem piorar esse descontrole como é o caso do cartão de crédito, que dá uma falsa ilusão de que é possível gastar mais dinheiro do que se tem. Além disso, os parcelamentos e os limites dos bancos também ajudar a alimentar a mentalidade de compras sem necessidade. “Nós estamos estamos gastando mais do que a gente ganha e isso é uma coisa bem ruim”, diz Walcir.
Outra questão levantada pelo especialista está no fato da tecnologia ter facilitado o ato de gastar dinheiro. No caso, as grandes plataformas de e-commerce usam os seus algoritmos para atingir os consumidores nos seus nichos preferidos. Além disso, as opções de pagamento tornam essas compras muito mais frequentes. “A gente tem cartões que são aceitos sem nenhuma comprovação de renda, taxa zero e você tem um grande limite, mas você não tem renda”, destaca o professor.
Walcir ressalta que para mudar de mentalidade, a população deve entender que o dinheiro – assim como qualquer produto – também tem um preço. Por exemplo, se um indivíduo atrasa uma conta, ele pode ser punido com o pagamento de uma taxa. No entanto, se uma pessoa tiver dinheiro investido em uma poupança, é possível que o rendimento perdido possa ser retornável.
Segundo o professor, a quantidade de taxas pagas para manutenção de uma conta no banco acaba sendo muito maior do que o dinheiro que uma pessoa pode receber. Walcir aconselha que a população passe a fazer um controle muito mais preciso do que está recebendo e o que está gastando.
De acordo com o especialista, a mudança de mentalidade sobre o excesso de gastos é essencial para garantir uma verba maior para o futuro. Segundo ele, é preciso pensar bem antes de fazer uma conta que seja em um valor muito acima do normal. A ideia é fazer com que antes da compra, a população procure refletir sobre a necessidade de compra.
Com isso, acabando com o hábito imediatista dos brasileiros de fazer compras por impulso. “Tem que pensar se precisa realmente fazer a compra”, afirma. Walcir destaca que o investimento desse dinheiro que não for gasto é essencial para que a pessoa não caia no perigo do consumo desenfreado. Afinal, o produto que não foi comprado pode virar renda para o futuro.
Walcir destaca que o planejamento financeiro ficou muito mais fácil de fazer ao longo dos anos. Segundo ele, é possível usar uma infinidade de aplicativos para controlar o próprio dinheiro. “Se eu digitar o nome do supermercado que eu sempre vou, o próprio aplicativo vai citar quando gastei nos últimos 60 dias, 4 anos, 5 anos”, diz.
A tecnologia facilita o controle, mas o professor alerta que é importante que a população esteja atenta ao possível gasto desenfreado com o cartão de crédito. Segundo ele, o limite do cartão é o que o banco fornece, porém, o limite nas despesas é relativo a cada pessoa. Walcir aconselha que cada pessoa que quer se planejar coloque em um papel qual será seu custo fixo (o essencial para viver como prestação do carro, compras de supermercado). Os gastos com cartão de crédito são os custos variáveis que podem tanto aumentar quanto diminuir.
Para o especialista, em termos de investimento, é importante ter uma reserva de segurança para que ninguém fique com receio de não ter dinheiro nos próximos meses. “Tenho um custo fixo de R$500 e gasto mais R$500 de despesa variável, então você ainda tem que ter R$ 2 mil por mês para viver de maneira equilibrada. Então você pensa R$ 2 mil x 6 e R$ 2 mil x 12, essa é a quantidade dinheiro que você tem que ter para viver de maneira equilibrada”, explica.
De acordo com Walcir, é preciso estabelecer o que é essencial ou não em termos de gastos. No entanto, o professor também fornece outra alternativa que consiste em “pensar no que é cortável e você não tinha pensado nisso”. O especialista ressalta que qualquer taxa pode funcionar como rendimento para o futuro desde que investida em uma bolsa.
Além disso, Walcir destaca que existe a Resolução 3919, de 2010, do Banco Central, que determina como regra que qualquer pessoa física no Brasil pode ter uma conta sem tarifas. Por isso, taxas pequenas vindas de bancos podem ser ser cortadas do orçamento desde que isso seja amparado pela lei.
Em relação a aplicações para “fazer o dinheiro render”, o especialista recomenda que a população faça seu cadastro em uma corretora. Muitas contas podem ser abertas em questão de minutos. Antes de pensar em investimentos, o economista aconselha a população a pensar em fazer uma reserva de segurança.
O professor também indica que o CDB (Certificado de Depósito Bancário) é o investimento mais seguro a se fazer e funciona como um empréstimo do seu dinheiro para as corretoras. “As pessoas devem entender que o investimento não é você deixar seu dinheiro com alguém, é o empréstimo que você está fazendo para a instituição financeira e que ela vai te devolver”, diz Walcir.